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A jornalista norte-americana Sheeka Sanahori viralizou nas redes sociais ao revelar que a inspiração por trás de seu nome vem de Chica da Silva, a mítica escravizada que viveu em Minas Gerais e acumulou poder e riqueza. Sheeka compartilhou sua história com a Marie Claire, detalhando sua aproximação com a cultura brasileira e narrando sua viagem à Diamantina, cidade em que viveu a figura histórica.
Foi durante uma conversa com os pais que a jornalista Sheeka Sanahori descobriu uma inesperada relação com o Brasil. Ela foi surpreendida por uma revelação: seu nome foi inspirado em Chica da Silva, a mítica escravizada que viveu em Minas Gerais e acumulou poder e riqueza.
Seus pais decidiram batizá-la após assistirem ao filme “Xica da Silva”, de 1976, estrelado pela atriz Zezé Motta. Ela foi registrada com uma versão “americanizada”, Sheeka, e só descobriu a verdade quando os questionou sobre o nome tão incomum.
“Perguntei como eles tinham pensado nisso, e minha mãe disse que os dois viram um anúncio do filme no jornal local, em Tucson [no Arizona], e foram assistir. Eles não sabiam nada sobre o longa”, conta a jornalista em entrevista à Marie Claire.
Mesmo sem muitas informações, os pais de Sheeka saíram do cinema encantados com a produção e, mais ainda, com a personagem que foi inspirada nos relatos do período colonial. “Lembro que me marcou quando questionei meu pai a razão dele querer dar esse nome pra mim e ele respondeu que tudo o que viu foi uma mulher negra forte e foi com isso que se identificaram. Eu pensei: ‘Tudo bem'”.
Sheeka Sanahori compartilhou essa conexão inusitada com o Brasil em um vídeo postado nas redes sociais, o que resultou em mais de 40 mil visualizações somente no TikTok — uma história que foi recompartilhada por outros perfis. “Adoro todas as pessoas que entraram em contato para compartilhar sua cultura e me dar mais recomendações e dividir seu apreço pelo meu interesse em aprender mais sobre a história e a cultura brasileira. Tem sido ótimo, mas uma grande surpresa também. Jamais imaginaria tudo isso”.
Aos 40 anos, a americana passou metade da sua vida pesquisando sobre a mulher que inspirou seu nome. “Me contaram a história quando eu era bem mais jovem e demorei um pouco, mas acabei encontrando o filme no YouTube e assisti sozinha”, recorda ela, que confessou ter ficado confusa na primeira vez que viu o longa.
“Nos últimos dois anos, encontrei alguns artigos sobre ele [o filme]. E esses artigos explicavam como o filme era uma referência muito importante do movimento negro que estava acontecendo no Brasil nos anos 70. Quando li isso, tudo começou a fazer sentido para mim e passei a entender um pouco melhor”.
O longa “Xica da Silva”, dirigido por Carlos Diegues, é uma das várias produções que retratam Francisca da Silva. Além do filme, sua história também ganhou romances, peças de teatro, poemas e uma novela estrelada por Taís Araújo, em 1997. Nos anos 60 e 70, o movimento negro resgatou a personagem em um momento no qual grandes personagens negros ganharam protagonismo.
Filha de um português e uma africana, a Chica da Silva original foi escravizada e depois alforriada pelo contratador de diamantes João Fernandes, que a comprou. Com ele, teve 13 filhos, o que lhe garantiu um status social elevado, algo muito difícil para mulheres negras naquela época.
Em busca da origem de Chica
O interesse de Sheeka em Chica da Silva foi tão grande que ela decidiu visitar Diamantina, cidade mineira em que a escrava alforriada viveu, a fim de conhecer mais a fundo as origens dessa figura histórica. O passeio aconteceu recentemente, no começo de abril.
Em seu roteiro, a americana conheceu a Casa Chica da Silva, casarão em que Francisca viveu com João Fernandes de Oliveira. No local, conheceu John Lennon, o jardineiro com quem fez amizade durante a visita. “Há uma bela vista lá fora, mas depois, quando fomos para os fundos, foi lá que conheci o John e ele me mostrou o jardim, que é muito especial para mim, porque também cultivo muitas frutas e verduras. Senti uma bela conexão ao estar lá”.
“Eu diria que foi um ponto alto para mim. É um museu muito legal, com obras de arte absolutamente lindas, que realmente evocam emoções ali. E tem um jardim que é tão bem cuidado. Eu amei”, declarou a jornalista.
Essa é sua segunda visita ao país: a primeira aconteceu em 2015, quando veio com a família e passou por São Paulo e Rio de Janeiro. Porém, Sheeka sonha em voltar novamente para conhecer Salvador, na Bahia, a cidade com maior população negra fora do continente africano. “Como meu marido é da África, nós gostamos de viajar para ver a cultura negra e africana em lugares diferentes. Portanto, esse lugar está no topo da nossa lista, sei que tem muita cultura por lá”.
Outro desejo da americana é poder encontrar a atriz que começou toda essa história: Zezé Motta. “Espero que não pareça loucura dizer isso em voz alta, mas seria meu sonho poder dar um abraço nela e dizer ‘obrigada pela inspiração, sua personagem foi quem inspirou meus pais’. Então, acho que seria muito legal.”
Fonte: Marie Claire/Goobo